TEMPO COMUNIDADE – ATIVIDADES DA TURMA DE EDUCAÇÃO NO CAMPO NA ILHA DO CAPIM – ABAETETUBA (PA)

No dia 09 de maio de 2016 a turma do curso de Educação do Campo 2014 Regular da Universidade Federal do Pará, Campus de Abaetetuba, saiu do município por volta de 9h. Conduzidos pela Profa. Eliana Teles, os estudantes foram até a Ilha Capim no município de Abaetetuba para realizarem a pesquisa de campo referente ao Tempo Comunidade da disciplina Prática Pedagógica IV.

Eliana Teles, LABCARTS

7/13/20165 min read

No dia 09 de maio de 2016 a turma do curso de Educação do Campo 2014 Regular da Universidade Federal do Pará, Campus de Abaetetuba, saiu do município por volta de 9h. Conduzidos pela Profa. Eliana Teles, os estudantes foram até a Ilha Capim no município de Abaetetuba para realizarem a pesquisa de campo referente ao Tempo Comunidade da disciplina Prática Pedagógica IV. O objetivo foi conhecer in loco a situação socioambiental na Ilha. A travessia durou cerca de uma hora e meia. Na Ilha, a turma passou a ser guiada por Elias Monteiro, colega de curso e também morador do local.

Com base na pesquisa de campo previamente realizada pela equipe formada pelos colegas Elias Costa Monteiro, Ewerton Souza Cavalcante, Leonice Dias Sena, Rafael De Jesus Correa Quaresma e Renato Carvalho Barros, nos direcionamos até a Escola Municipal Padre Pio. Durante o trajeto em uma trilha da casa dos pais de Elias até a escola, observamos o quão longo era esse e as várias dificuldades presentes. Vinte e cinco minutos depois, chegamos à escola, mas a encontramos de portas fechadas, sem aula, em plena segunda feira. Após esse momento frustrante, decidimos entrevistar os moradores do local. Os primeiros entrevistados foram os jovens Felipe e Alex, em seguida a senhora Gisele Ferreira Santos.

Gisele relatou que enfrentam muitas dificuldades para adquirir água potável e que as crianças estão com doenças de pele e indícios de parasitoses. Isso aumentou desde que ocorreu o naufrágio do navio cheio de bois em Vila do Conde, no município vizinho de Barcarena. Ela nos relatou também o temor dos moradores por causa da construção do porto para descarregar grãos, bem como das promessas da empresa que diz oferecer muitos empregos a partir da instalação de tais portos de embarque e desembarque de grãos vindos do Sul do Pará. Dona Gisele, também comentou sobre como a comunidade está se organizando diante desse caso. Ao retornarmos para a o local de alojamento, enfrentamos um percurso ainda mais longo que o anterior, por causa da maré que o havia alcançado. No caminho nos deparamos com vários estudantes que se dirigiam à escola para o turno da tarde, embora ainda fosse horário do almoço. Explicaram que é necessário ir cedo, devido a distancia longa.

Por volta de 14h, após pausa para o almoço, a turma retornou à escola, desta vez de barco e encontraram a escola sem aula novamente. A gestora se fazia presente no local e apresentou o estabelecimento de ensino, que por sinal tem ótima estrutura, porém disse não saber o motivo de não haver aula mesmo sabendo que os professores do Sistema de Organização Modular de ensino (SOME) estavam na Ilha. Em seguida entrevistamos um grupo de rapazes que estavam ali perto – embaixo das mangueiras e ameixeiras – com idade na faixa de 21 anos. Os jovens relataram os motivos que os fizeram desistir de estudar, outros falavam sobre perspectivas pós-ensino médio e seus cotidianos. Após esse momento a turma foi de barco até o local onde serão construídos os portos de embarque e desembarque de grãos pela OTP – Odebrecht Transport e Servemar.

A docente Eliana comentou a exaustão da turma ao enfrentar uma trilha até a escola e que era tão triste de se imaginar o que os estudantes enfrentam todos os dias para chegar à escola e não haver aula. A falta de energia elétrica na escola impossibilita os alunos de utilizarem as salas de aula com frequência devido ao calor e consequentemente o laboratório de informática também não é utilizado.

Por não ser contemplada com energia elétrica, há moradores que buscam outras fontes de energias por meio de equipamentos suspensos em árvores para captar energia solar, outros utilizam motor a óleo diesel para obter energia e poder executar algumas atividades diárias que necessitam, como por exemplo, ligar a máquina para bater o açaí, ligar bomba d’água, entre outros, como a construção e reforma de barcos.

No retorno para o local de alojamento, a residência do Senhor Januário Monteiro, 59 anos, mais conhecido como Rosa, ele nos concedeu uma longa narrativa sobre sua vida na comunidade. Relatou sobre os impactos sociais e ambientais com a chegada desses portos, o seu futuro e o futuro da ilha Capim. A partir dessa fala e de outros que ouvimos durante o dia, surgiu à ideia para fazer um vídeo sobre os impactos socioambientais, agronegócio e a negligência educacional na Ilha do Capim, o qual foi apresentado no V Seminário Integrador do Curso de Licenciatura Educação do Campo da Universidade Federal do Pará-Campus Abaetetuba.

À noite, a esposa do senhor Januário, dona Ozanilde, mais conhecida como dona Chica, comentou sobre a diversidade de peixes e quantidade de camarão que havia ali antes da intensificação do fluxo de balsas de grande porte naquela região. Falou da erosão e de como isso levou ao fechamento do cemitério da comunidade. Jeremias, 24 anos, disse com profunda tristeza as dificuldades enfrentadas até para sepultar seus entes queridos, pois o primeiro cemitério foi destruído pela erosão causada pela aproximação de balsas e que o segundo, já no Malato – localidade em Ponta de Pedras na Ilha de Marajó, para onde transferiram o cemitério – será interditado por uma empresa que visa construir um porto na área. A empresa que comprou área na Ponta do Malato é a Louis Dreyfus Commodities (LDC), parceira da OTP – Odebrecht Transport, e irá instalar uma estação de transbordo em Miritituba e o porto da Ilha do Capim.

Por causa da maré, retornamos para Abaetetuba por volta de 05h30minh da manhã do dia 10 de maio de 2016. Durante a viagem viemos desfrutando do vento bom, muito comum em meio a travessia. Avistamos alguns pescadores pelo rio, desenvolvendo suas atividades de pesca, a qual faz parte de um dos principais meios de subsistência da comunidade.

No mais, a turma de Educação do Campo agradece a comunidade por ter nos recebido para que pudéssemos fazer a pesquisa, bem como terem se disponibilizado em relatar sobre as questões que envolvem a Ilha Capim. Além de ter nos alojado e nos recepcionados tão bem, em especial, a familia do Elias ( Sr. Januário e Dona Ozanilde e o irmão do mesmo).